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O Cú do mundo

Quando pequeno, ouvi de um tio muito amável e com pouca acuidade visual, que o lugar para onde iríamos naquela manhã ficava no Cú do mundo. Criança que era, perguntei: em que lugar ficava a cabeça, as pernas e os braços do mundo?  Ele não soube responder e este questionamento consumiu alguns de meus anos! Por que só conheciam o Cú do mundo? Começa assim minha percepção sobre a fascinação humana por tal tema e contarei alguns casos que colocam o Cú em evidência, além da recém-inaugurada ciência chamada “Cúlantropocentrismo” (do grego Κώλο “Cú”  άνθρωπος, anthropos, “humano”; e κέντρον, kentron, “centro).

Em peculiar ocasião, Astolfo, nosso vizinho era conhecido pela prontidão imediata com que se apresentava a todos que o rondava. Encantador sujeito, de sorriso fácil e doçura exposta deixava para a vizinhança a única via de amá-lo devido a seu carisma inesgotável desde seus tempos de menino.

            Estava eu na hora exata quando chegaram os primeiros boatos taxativos afirmando o que Astolfo havia feito: mal uso de seu patrimônio anal!  Impressiona ver, como em questão de minutos, o garoto sorridente, amável, conciliador da vizinhança transformou-se em ameaça moral para velhos e crianças.

            Se me julgam vulgar por falar tão abertamente sobre o Cú, saibas tu que ele, o Cú é objeto de estudo para renomados homens da ciência como Sigmund Freud. Este autor dedicou-se de forma aprofundada sobre o estudo do tema. No mundo do senso comum, a obstinação pelo Objeto/Sujeito/Cú citado cientificamente, fez com que nós, homens e mulheres medianos(as) criássemos uma máxima. Quer concordem ou não, essa frase adentrou em milhares de orifícios auditivos: Cú de bêbado não tem dono!

            Que coisa, rapaz… Refleti cá comigo… Tamanho é o desejo de controle humano pelo Cú dos outros, que elegeram um setor da sociedade como não apto aos cuidados com o seu próprio Cú. Sendo assim, desta maneira, permanece o sujeito bêbado impossibilitado de ingerência sobre seu Objeto/Sujeito/Cú. No entanto, feita uma análise mais cuidadosa acerca do assunto veremos que mentiram para o bêbado. O Cú dele tem dono sim: somos nós! Os imemoriáveis controladores das condutas do Cú dos outros.

Contei a um amigo, cuja alcunha não vou revelar, esta trajetória que começou com o questionamento sobre onde se localizava o Cú do mundo e refiz o processo que culminou nesse complexo debate. Ele respondeu: deixa de ser chato cara! Vai tomar no Cú!

            Enfim, concluí com tudo isso que… “Quem tem Cú, tem medo”. Foi o que ouvi um dia em uma conversa semi-filosófica. Com esta máxima concordei, pois a esta altura já havia percebido a importância do Cú e o quão valioso papel este desempenha em nossa sociedade. Seja o Cú freudiano, o Cú sexual, o Cú do Astolfo, o Cú moral e o Cú imoral. O fato é que definitivamente é o Cú que insere o sujeito na cultura!

Ainda intrigado com o questionamento infantil e sem saber onde se encontra o Cú do mundo, suponho ao menos que, hoje em dia, boa parte do mundo se encontra no Cú… dos outros.

 

 

* A acentuação da palavra Cu foi colocada em virtude da pressão popular exercida nos assuntos concernentes ao Cú.

Carlos SJ

Escritor, Psicólogo, Músico

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