Mimada, chorona e branquinha. Era assim desde pequena, a pequena Stella. Esperneava e trovoava blasfêmias para a família revelando assim o seu precoce egoísmo. Apesar de difícil, tinha meio que por disfarce um grande amor dentro de si. Assim como a um vicio, todo este sentimento amoroso era canalizado em sua avó como se fossem vários feixes de água a se juntar na formação de um rio. Dona Miranda, avó de Stella e senhora alegre cheia de mistérios, possuía até lendas locais em seu histórico de vida.
Propriedade rural antiga, marcada por várias gerações e histórias. Num dia de chuva exagerada pela manhã, um grande jantar se anunciou e de acordo com os costumes do local, no dia 26 de junho comemoravam o dia do “menos um dia” no mundo. Este era um dia de lembrar-se dos desamparados e desesperados, sem comida, dignidade, amor e dinheiro, este dia assim se chamava porque para estas pessoas era como se houvesse menos um dia no mundo e tudo estava perto do fim.
As famílias ricas do local como as de Stella, neste dia comiam menos que o habitual, bebiam bem menos que o normal e trocavam seus penduricalhos de ouro e roupas finas por pratarias baratas e trapos amassados. Era um dia de imenso desencargo de consciência para os ricos que nada faziam por ninguém e no fundo sabiam que este dia somente existia e se mantinha por conta da exploração praticada junto a seus pobres.
Dona Miranda sentia estranhos presságios naquela noite, palpitações e suores diversos lhe ocorriam ainda mais quando Stella, parecendo possuída num acesso incontido e devastador de raiva, destilou palavras horríveis e insinuantes a cada presente na mesa de jantar. Apontava o dedo adolescente e dizia os segredos familiares mais sórdidos contanto um por vez e apontando seu detentor.
Ali se reunia toda a nata familiar, com ossos de fartura na boca, discutindo como aumentar seus lucros e ainda manterem vivos seus funcionários. A cada palavra de Stella tornava-se mais absurdo como poderia ser cabível um ser tão pequeno expondo a mesquinharia velada e denunciando com tamanha exatidão cada plano secreto de cada um. Stella por sua vez, via um filme em sua frente com trilha sonora composta por sinfonias de máscaras caindo na mesa de jantar, uma a uma, cristalizadas na forma de espanto e deixando os rostos nus e desprotegidos frente a sua petulância. Uma voz de revolta levantou-se aos berros, Sr. Calister, o líder da família, senhor mais velho, conservador, irresoluto, dono dos negócios e dos favores da região, virou-se para Stella dizendo: – Ouves o barulho lá fora? A trovoada? Vê os raios? Você tem cara de chuva!
Eu sou a própria chuva! Respondeu Stella. Todos naquele momento se deram por satisfeitos! Para eles estava claro que Stella tivera um grande momento de loucura e carecia urgentemente de cuidados médicos. Dona Miranda suspirou profundamente como se já soubesse de todas as palavras que iriam ser ditas naquele jantar pela sua neta.
O dia amanheceu e os negócios da família foram retomados. Não era mais o dia do “Menos um dia” e a empresa do Sr. Calister e os familiares podiam recomeçar suas atividades de rotina normal. O ramo empresarial consistia em um acordo mutuo. Eles eram financiados pelo governo para abrir caminho na criação de cidades e indústrias em meio a regiões historicamente habitadas por populações inteiras de famílias ancestrais. Os “senhores do fogo”, como eram conhecidos, queimavam a mata e florestas de comunidades nativas implantando primeiramente doenças e necessidades entre as pessoas, fazendo com que estas precisassem do dinheiro e serviços financeiros que somente esses senhores tinham condições de prestar. Sem escolhas ante as enfermidades recém-adquiridas ateavam fogo a mando dos senhores em troca de dinheiro visando à garantia da sobrevivência dos seus. Tudo se tornava seco com a chegada dos senhores do fogo. Tinham eles um enorme desprazer em ver na cara de seus trabalhadores forçados as lágrimas que jorravam, não que tivessem alguma espécie de compaixão, mas é que não gostavam nem um pouco de água, seja em que contexto fosse. As comunidades choravam porque ateavam fogo na sua própria historia, na terra de seus filhos, nos seus inúmeros pássaros, cachorros e até mesmo as formigas que, por minúsculas que fossem, pareciam lançar um olhar de tristeza frente ao gesto daquela gente cuidadora e algoz da terra.
Stella completava seu segundo mês de desaparecimento, isto tudo depois do jantar em comemoração ao “menos um dia”. A família preocupou-se no inicio, mas os negócios não podiam parar. Sua avó Miranda era silêncio absoluto envolta em uma calma intrigante desde o desaparecimento da neta. Os senhores do fogo foram incumbidos pelo governo a realizar a maior queimada de suas vidas. O dinheiro seria farto e para isso a própria cidade dos senhores haveria de ser queimada.
Animados com tamanha quantidade de valores envolvida naquele projeto, os senhores juntaram uma tropa de aldeões famintos e prometeram-lhes grandes ganhos e lucros com a devastação da floresta. Logo cedo as labaredas de fogo subiam aos céus espalhando um ar infernal à pequena cidade, antes verde e cheia de vida. Para surpresa geral, uma nuvem negra e gigantesca se formou nos céus jorrando uma chuva longa e furiosa. Não havia chuvas naquela época do ano… Não com aquela magnitude. Ininterruptos dias de chuva intensa irromperam deixando atordoados os senhores do fogo diante do maior projeto já recebido em suas vidas. Torrencialmente caia gota após gota, semana após semana, enchendo os olhos dos senhores de um odioso e incômodo verde.
Fato assombroso viria à tona numa das molhadas semanas: um morador trouxe noticias bem estranhas a todos, dizia ele que há exatos 40 km não chovera uma só gota, a grama tinha um aspecto amarelado pela falta de água e a chuva não havia passado por ali nem por um instante. Pasmos com a averiguação da noticia os senhores do fogo decidiram não desistir e começar novamente suas queimadas pelo local indicado.
Dona Miranda acordou aos berros numa manhã de domingo dizendo que aquela chuva misteriosa, de madrugada, jorrava de baixo para cima como se estivesse repondo-se para a próxima descarga d água, cada gota que antes estava na terra voltava aos céus alimentando aquela enorme nuvem negra. O comentário da família foi somente um: a velha está louca assim como Stella… Em breve deverá ela repetir o destino de desaparecimento tal qual a neta o fez.
Com a notícia geográfica dos 40 km, os senhores do fogo começaram seus intentos e a fumaça subia junto a labaredas incríveis. O fogo tinha vida e crepitava aos berros, associado aos gritos dos animais e risadas intermitentes dos senhores com dentes amarelados e jóias reluzentes ao brilhar do fogo.
Estranhamente, notou dona Miranda que exatas 3h40 daquele dia, chuva não havia. Nenhuma chuva subira aos céus e nem sequer descera como acontecia em partes da manhã. Foram exatos dois dias sem chuva e dona Miranda sentia um estranho sentimento de saudade com a partida daquela água misteriosa. Ela acordou na hora exata da madrugada esperando ver de novo o espetáculo. Seus olhos tinham as mesmas lagrimas de outrora, porém já não havia a companhia da chuva, pois esta se encontrava a 40 km de distância da fazenda, bem acima das cabeças dos homens de sorriso amarelo e pratarias reluzentes, os grandes “senhores do fogo”. Estes chegaram pela manha num misto de ódio e desespero cada um com a pergunta estampada na alma. Por que diabos aquela nuvem estacionara sobre a queimada? Por que aquela maldita água jorrava os acompanhando? Todos voltavam à fazenda enquanto há exatos 40 km jorrava água em torrentes, sem interrupções.
Folken, o filho de Calister, patriarca da família, chegou no dia seguinte à fazenda gritando loucamente e agarrando-se em posições vergonhosas aos pés do pai, que o desafiou:
– Levanta homem ridículo. Tu és um senhor do fogo, não se curve à toa, que tipo de comportamento é este que vejo de um filho que criei para erguer-se diante até de Deus, se necessário for?
– Pai! As nuvens estão a sugar, com violência, as águas, a terra, as casas. A paisagem esta nua, somente animais é o que vejo esta nuvem poupar, estamos sendo castigados! Fizemos algo de errado nesta vida, somos errados!
Quase que em coro houve um urro coletivo de “cale a boca”. Calister estava decidido a dar um fim naquela besteira que começava com Miranda e passara ao filho como numa relação virial. Folken não conseguiu suportar a carapuça de louco e de sobressalto interpelou o pai olhando-o no olho e desafiando a conferir por ele mesmo toda sua narração.
Os senhores do fogo, diante do narrado, não acreditavam de modo algum em tamanha falácia. Porém diante dos fatos era quase óbvio que algo de anormal ocorria e seria bom dar umas risadas do filho de Calister. Ao chegarem ao local da queimada, há exatos 40 km, nem sinal da terra negra incendiada, nem casas, nem postes, nem ruas, apenas brotos e raízes minúsculas da terra subiam vagarosamente aos céus. O sentimento dos presentes unia-se numa feição de espanto ante ao absurdo daquilo que parecia ser um belo teatro mágico. Os píncaros encostavam-se às nuvens e via-se claramente que as casas esbarravam nos seus cumes no alto, deixando com que caíssem algumas arvores e estruturas da cidade. Nunca os senhores haviam dado tamanha importância a uma nuvem e naquele momento contemplavam os céus durante vários minutos, seus rostos estavam encharcados de uma chuva que começava pelos pés, subindo vagarosamente, os molhando, entupindo suas narinas com gotas carregadas de terra e por mais que assuassem mais gotas penetravam numa verticalidade, não importando quem permanecia no caminho, se eram os senhores do fogo ou quaisquer seres que se encontravam acima da terra.
Os olhares fixavam-se em Folken, olhares de perdão, que também procuravam uma espécie de explicação, já que o garoto narrara o evento com tamanha credulidade e veemência. Uma vez comprovado, os expectadores esperavam com desespero que alguém pronunciasse a primeira palavra diante daquele espetáculo invertido da natureza.
Houve um pronunciar: não foi de Folken, nem de Calister, nem de nenhum dos presentes, a mensagem veio da nuvem, que atirou do alto um bloco que dançava com suas folhas presas por um círculo de arames enrolados; ora pairava no céu, ora descia num vôo rasante, vigiado sem piscar de olhos por todos que o viam.
Após uma turbulenta descida o bloco estacionou no chão intacto, revelando ser um pequeno calendário. Uns por vez, nas pontas úmidas dos pés foram se achegando ao misterioso calendário, todos olharam sem dar importância, porém somente Folken alertou sobre uma mancha em cima de uma data específica, era justamente o dia 26 de junho, o dia do “Menos um dia”. De repente aqueles belos senhores, amparados cada um por sua arrogância particular, viam-se diante de um acontecimento único… Explicação plausível não havia, era claro que ali uma mensagem estava sendo dada e pelo contexto da data podiam facilmente julgar que não se tratava de algo positivo. Os calafrios corriam sobre os senhores que se punham a pensar sobre o significado daquele fenômeno da natureza, havia um aperto quase insuportável no peito quando o pensamento se voltava a esclarecer o que aquilo tinha a ver com suas vidas.
Dando graças a Deus os senhores agradeceram pela nuvem ter expurgado apenas um simples calendário para terra, pois vez ou outra se podia ver casas, postes e tudo o mais num redemoinho suspenso nas alturas.
O que você sabe sobre aquela nuvem? Lançou-se esta pergunta em tom agressivo a Miranda. Vamos responda! Nossa família perdera suas posses e você não mais poderá sustentar suas loucuras místicas sem apoio financeiro, velha maluca.
– Só sei que às 3h40 da manhã ela suga água da terra, respondeu Miranda.
– Pois saiba você que sua nuvem sugou a terra, as casas, os nossos planos e tudo que nos faz ser quem somos e se tiveres metida nisto, juro que conhecerá o inferno, Dona Miranda.
Falken advertiu o pai dizendo que aquela conversa em nada iria adiantar já que Miranda contava à família sempre a mesma historia sobre a chuva, e esta eles presenciaram da mesmíssima maneira.
Os problemas financeiros da família agravaram-se severamente e o clima nublou assim como a insistente nuvem que pairava em todas as tentativas de queimadas nas cidades. Nenhuma resposta, nenhuma explicação, a nuvem seguia sugando além do concreto os sonhos, as ambições e o brilho de cada um dos senhores conservadores, que a cada dia ensaiavam uma lágrima às escondidas. Diante de tamanho desespero, o que podiam fazer? Perguntavam, se punham a rezar, a se culpar, pois nada fizeram na vida, a cultura familiar ensinava religiosamente que a vida se fazia por meio de exploração daqueles que nada tinham, em favor dos predestinadamente capazes. Seus filhos não possuíam estudos longínquos, suas mãos não produziam arte, suas bocas não verbalizavam união, suas vidas se constituíam no que era imóvel, queimado, morto! Seus pensamentos não podiam conceber a capacidade humana de construir. Foi isto que os levou a uma derrocada abismal, sempre acompanhada por uma chuva inteligente e persecutória. Um ano passara-se e o dia do “Menos um dia” novamente chegou…
A vergonha era como uma roupa suja e rasgada que desta vez não podia de modo algum sair do corpo, pois era a única que cobria seus corpos, não havia fingimento, não havia disfarces, a comida era disputada, a boca seca pingava saliva diante daquele banquete de sobras que tanto Calister insistia em chamar de jantar. As mulheres não mais se entreolhavam, não fazia sentido olhar na outra os enfeites auríferos de outrora. Antes, neste dia, elas guardavam suas jóias que envergavam as orelhas e os braceletes que cobriam o antebraço para pôr bijuterias baratas, porém, na situação atual, suas peles estavam marcadas pelos trabalhos braçais e secas por conta da abstinência dos cosméticos europeus.
Cada qual a sua maneira contemplava o horror de olhar a si próprio e sentir o que era sofrer a homenagem do dia do “Menos um dia”. Já não era mais necessário colocar-se na pele do humilde, do fraco, dos sem posses. Eles, os Senhores do fogo eram forçosamente convidados a viver a humildade, a penitência e a fé em dias melhores, sentimentos que causavam asco a qualquer família minimamente nobre. Fé no incerto era o que mais incomodava, perder as rédeas da própria vida e humilhar-se a pedir aos prantos pelo alivio das dores. Chegaram a pesquisar nomes de santos e rezas, procurando construir um novo futuro. Como era dura aquela realidade, como era difícil estar à mercê das intempéries do mundo.
No meio da noite o nível alcoólico de toda família ultrapassava o aceitável, porém aquela não era uma comemoração e sim uma bela chance de se esquecer de todos aqueles eventos, de fugir daquela lógica de castigos dos céus e de desacreditar que conseguiram ter a água por inimiga.
Dona Miranda contemplava o que para ela tratava-se de um espetáculo. Ver toda a família que a tachara como louca, mística, desvairada, entrando num processo subliminar de existência.
Todos já estavam prestes a se retirar junto à mesa e enfim acabar com aquela data que nunca seria esquecida, quando um vento forte soprou na sala, um vento que emudeceu a todos, exceto Miranda que pronunciou somente as seguintes palavras: – São 3h40 da manhã.
Espantados pelo vento os presentes voltaram-se ao relógio, que estático fixou seus ponteiros no horário anunciado por Miranda, porém isto não era o que demais acontecera, muito pior foi a reação geral quando este mesmo relógio começou a girar seus ponteiros ao contrario. As lágrimas foram incontidas e jorravam como a chuva em cada face, o relógio regredia seus ponteiros a uma velocidade assustadora. O pranto dos senhores do fogo, de suas mulheres, de suas amantes, foi se extinguindo e dando lugar a uma curiosidade geral. Disse uma das mulheres presentes que 20 minutos se passaram com a saga dos ponteiros. Parou! E regressou 8.760 horas, exatos um ano. Quem disse isto foi Miranda apontando para o relógio, que por sua vez apontava 3h40 da manhã.
Miranda estava no centro da sala, com todo o corpo molhado, sua voz havia mudado de tom expressando uma calmaria sem igual, todos rodearam-na e admiraram cada gota que caia de seu corpo, como se ela estivesse sob pingos incessantes, um breve silêncio se fez e Miranda o quebrou dizendo: – São 3h40 da manhã do ano passado, contarei uma historia: a minha, a de Stella.
Houve uma inquietude nos olhos das pessoas, além de Miranda estar passando-se por Stella e causando um medo sem igual, também dava medo pensar como aquele membro filho, irmão e parente dos presentes, de nome Stella, havia sido esquecido tão rapidamente a ponto de quase não ser mencionado durante um ano inteiro de seu sumiço, salvo por Miranda, que agora falava seu nome como se ela fosse.
– Fui ao meu quarto aos prantos naquela noite, o dia do “Menos um dia”. Via da janela a cara marcada de meninas como eu e a tristeza de verem seus pais, os funcionários dos meus, a tocar fogo em animais, árvores, pássaros e tudo que antes era lindo e verde se transformando em um manto de terra negra. Chorei até me sentir seca por dentro e saí pela porta dos fundos vendo da janela como era prazeroso para as mulheres cobrir-se de bijuterias baratas e trapos amassados fingindo um sofrimento e pobreza que jamais experimentaram. Vi como era geral a alegria dos meus parentes ao beberem cachaça de péssima qualidade e rir com seus dentes de ouro enquanto cuspiam farinha que sabiam ser consumida apenas naquele dia do ano. Sai correndo em meio à mata com um sentimento de não pertença àquilo tudo, não podia ser eu! Não podia fazer parte de mim tudo aquilo, corri com a sensação que a cada passo me distanciava daquela família… Corria, corria, corria de Calister, de Folken, de meus pais, da historia de minha família. Distanciei-me e quando olhei para os meus pés, o sangue os cobria, alertando o quanto eu havia percorrido. Parei num morro onde pude, em meio à escuridão, avistar uma imensa faixa de fogo e ver pela primeira vez o tamanho do estrago que meus parentes, os Senhores do fogo, causavam à vida. Apesar das tristes conseqüências que aquela queimada causaria, não pude deixar de brilhar os olhos com a cena linda do contraste entre fogo e escuridão. O barulho crepitava em meus ouvidos, fui meio que por encanto, passo a passo em busca daquele espetáculo não natural causado por meus familiares. Devagar ia me aproximando quando escorreguei violentamente e vi meu corpo despencar de uma altura absurda, fui caindo sem acreditar neste novo destino que seria o fim. Olhei para cima em minha queda e a última imagem que vi foi uma nuvem gigantesca, linda, branquinha. Neste instante lembrei-me como minha avó me falava aos ouvidos como eu era chorona, mimada e branquinha, tudo isto neste curto espaço de tempo entre meu existir e o desconhecido. Vi aquela nuvem branca em meio àquele céu negro e estrelado igualmente belo e pedi num grito desesperado, como se para chegar aos ouvidos de Deus, disse a ela: livre esta terra do fogo de minha família. Cheguei ao momento final de minha queda caindo de bruços numa caverna d’água, onde lentamente fui perdendo as derradeiras forças, tive somente a oportunidade de ver em meu último instante, meu iluminado relógio de pulso que figurava a minha frente marcando exatas 3h40 da manhã.
O dia amanheceu e a terra encontrava-se entulhada por casas retorcidas misturadas às árvores, tudo que foi retirado da terra fora devolvido. A cidade tinha aparência de um grande terremoto e os moradores saíram de suas casas em grupos para ver o que havia acontecido. A família de Stella misturava-se aos transeuntes, eles tiveram tempo de ver o rastro daquela misteriosa nuvem ir embora ao encontro da caverna onde Stella caíra para depositar novamente todo o liquido, aquele era o último momento da linda faixa de água suspensa: a nuvem.